Banca piauí, no Leblon, com anúncios da Gio Conveniência.
A falência das bancas de jornal tradicionais
Como os jornais se tornaram segundo plano nas bancas espalhadas pela cidade do Rio de Janeiro.
Por Anna Luísa Souza
Luís Antônio Albamontes é dono da banca na interseção das ruas Evaristo da Veiga e Senador Dantas, no centro da cidade do Rio, há 24 anos. O proprietário detectou uma tendência atual - a popularização dos mangás, histórias em quadrinho japonesas. Essa procura estabeleceu uma oportunidade de vendas para ele. “Ainda tem um público que gosta do papel, até o jovem mesmo gosta de papel, então ainda continua um fluxo. E eles não gostam de comprar no site porque demora, pode ser extraviado, então eu mantenho esse público fiel“ relatou.
No Rio de Janeiro, as bancas de jornais ocupam um lugar de destaque nas ruas, principalmente na zona sul e no centro da cidade. São quase 2100 espalhadas na capital fluminense. Mas, a experiência de frequentar esses locais têm passado por transformações nos últimos anos, o que reflete mudanças nos hábitos de consumo. Hoje em dia, não é incomum entrar em uma banca e se deparar com diversos tipos de produtos, desde biscoitos e doces até carregadores de celular. Na verdade, isso chama mais atenção do que os jornais, revistas e quadrinhos.
Mônica Lourenço, proprietária da banca de jornal H & M no Leblon há duas décadas, testemunhou de perto essa transformação. Para ela, o ponto chave na mudança dos hábitos de consumo foi a internet. Durante seu tempo à frente do estabelecimento, Mônica observou a diminuição gradual da clientela. Além disso, contou que, atualmente, o que mais vende na banca são as bebidas e cigarros. “Dizem que o povo deixou de fumar, não sei, entendeu? Fumam acho que até mais, porque tem muito mais variedade“ brincou.
Com a transição do perfil das vendas, muitas bancas têm se adaptado. Mesmo as mais tradicionais, como a Piauí, banca que deu o nome a revista criada por João Moreira Salles, na zona sul carioca, tem produtos diversos à venda. Fundada há 68 anos, a Piauí ainda mantém as revistas como carro-chefe. Contudo, desde que a gestão passou para a Gio Conveniência, produtos diversos têm ganhado espaço. A empresa é ligada à tabacaria e é responsável por seis bancas nas zonas sul e oeste da capital carioca. “A Piauí ainda é muito voltada para revista importada. Agora, outras bancas de jornal da rede que eu trabalho (Gio Conveniência) é mais a questão da tabacaria“ contou Viviane Cardoso, funcionária da Piauí.
Algumas bancas, como a Banca da Val, no Leblon, deixaram de vender produtos impressos. Lá, os artigos de conveniência são os mais procurados. O Carnaval é uma época de maior movimento e lucro no local. "É muito difícil vir alguém procurando jornal, a questão é comida e cigarro" afirmou Henrique Barbosa, que trabalha na banca há dois anos.
O conceito tradicional das bancas de jornais está em declínio. Dados do Instituto Verificador de Comunicação (IVC) mostram que a venda de jornais impressos na cidade do Rio de Janeiro caiu 66% desde 2008. Para se adaptar a essa nova realidade, a Lei Ordinária Municipal 3425 de 2002 foi atualizada pela Lei Complementar 224, de 2020, permitindo que os jornaleiros vendam bebidas, artigos de tabacaria, doces, entre outros itens, de acordo com as mudanças nos padrões de consumo. Antes, apenas produtos acompanhados de material impresso podiam ser comercializados. A lei não modificou a prioridade de vendas, que continua sendo dos jornais - o que se tornou uma prática pouco frequente.