Obra da Geo-Rio em Santa Teresa, Rio de Janeiro
Moradias em áreas de risco tem redução de 51% no Maciço da Tijuca
Ainda existe o correspondente a 10 maracanãs de regiões perigosas ocupadas por moradores
Gabriella Pereira e Manoelle Monteiro
Ao longo dos últimos 14 anos, o Rio de Janeiro presenciou uma redução significativa de moradias em áreas de alto risco. Segundo a Geo-Rio, Fundação Instituto Geotécnica do Município do Rio de Janeiro, houve um decréscimo de 51% no Maciço da Tijuca, o maior da cidade e onde se concentra a maior parte dessas áreas críticas. Em 2011 as áreas de alto risco ocupavam aproximadamente 4 milhões de metros quadrados, o que seria equivalente ao tamanho de 21 maracanãs. Hoje ocupam 2 milhões, o correspondente a 10 estádios. A Geo-Rio realizou 4.600 vistorias e 166 obras nos últimos três anos, e impactaram diretamente a vida de mais de 1,5 milhão de pessoas.
Só esse ano, já foram feitas mais de 500 vistorias. Elas são executadas por um corpo técnico formado por engenheiros e geólogos, onde são definidas as obras necessárias para garantir a segurança da população. No mapeamento levantado pela Geo-Rio as áreas de risco são a Serra da Misericórdia, Maciço da Tijuca e todas as regiões ocupadas por favelas no município. A cooperação entre diferentes órgãos municipais, incluindo a Rioluz, a Defesa Civil, a Rio-Águas e a Secretaria de Infraestrutura, promove intervenções urbanas de grande escala. Um exemplo é o programa "Bairro Maravilha", que visa a transformar áreas desprovidas de infraestrutura básica em locais urbanizados e seguros. Projetos como esse estão em andamento em regiões como Guaratiba e Estrada da Pedra.
Em Campo Grande, 20 ruas foram revitalizadas com instalação de saneamento básico, calçamento e pavimentação. Os serviços incluíram a implantação de galerias pluviais para a drenagem de água da chuva, instalação de redes de água potável e esgoto sanitário. As obras foram realizadas pela Secretaria Municipal de Infraestrutura e custaram R$20,7 milhões.
O projeto de reassentamento na comunidade do Aço, em Santa Cruz, conduzido pela Rio-Urbe, é uma das medidas governamentais para reduzir as áreas de risco. Essas famílias, inicialmente residentes no Caju, foram deslocadas devido às fortes chuvas na década de 60 e reassentadas na comunidade do Aço. O cenário era de casas sem janelas, assemelhando-se a vagões, e esgoto a céu aberto. Estão em andamento projetos para a construção de prédios de quatro andares, que mudarão um terreno antes negligenciado em um espaço com drenagem adequada, áreas de lazer e novas escolas em construção. Um total de 704 unidades habitacionais está sendo erguido.
Marta Corrêa, 70 anos, é uma das moradoras da comunidade do Aço e disse que sentia vergonha ao receber visitas devido à condição precária da sua casa. “Eu passei 60 anos aqui, agora posso chamar minha família e meus amigos para virem aqui, porque antes eu tinha muita vergonha, ficava muito constrangida. Estou muito feliz que finalmente estamos vendo essa transformação.”
O plano do governo prevê novas moradias para o deslocamento das famílias em maiores áreas de risco e também obras de contenção de encostas ou mitigação de inundações, a fim de manter a população no mesmo lugar. Além das obras de infraestrutura, são implementadas medidas preventivas e educativas para mitigar os riscos relacionados às chuvas e deslizamentos. A Defesa Civil promove programas de educação em escolas, simulados de evacuação em comunidades de alto risco e instalação de sirenes de alerta.
O Rio de Janeiro conta com sistema de monitoramento avançado, que inclui radares e câmeras de vigilância que permitem uma resposta rápida a eventos climáticos extremos, como o sistema de alerta e o uso de drones equipados com dispositivos de análise laser.Como parte desse monitoramento, a Geo-Rio implementou, em 1966, o Alerta Rio, sistema de monitoramento e alerta de chuvas e deslizamentos em encostas. São 33 estações pluviométricas espalhadas pela cidade para monitorar as chuvas. De acordo com as condições meteorológicas são emitidos alertas à população, aos órgãos públicos responsáveis pela retirada das famílias dos locais e outras ações preventivas. Protocolos de segurança, como o fechamento de vias em condições de risco iminente, são acionados de forma rápida e coordenada entre os diferentes órgãos municipais e estaduais.
A gestão de riscos é uma prioridade do município. O presidente da Geo-Rio, Anderson Marins, explicou que um dos pilares desse processo é o mapeamento e a análise dos riscos. Utilizando dados geológicos, geomorfológicos e outros parâmetros, a equipe cria mapas de sensibilidade e inventários de riscos. Esses mapas identificam áreas de alto, médio e baixo risco. Com base nas análises e nos mapas, são definidas as soluções mais adequadas para cada situação. Isso pode envolver a implementação de medidas de estabilização de encostas, drenagem, reflorestamento, entre outras.
Segundo Anderson Marins, cada solução é detalhada em um projeto técnico, acompanhado de um orçamento que estima os custos envolvidos na execução das intervenções necessárias.Uma vez que os projetos são aprovados e financiados, a fase de implementação é iniciada. As obras são executadas pela diretoria de obras, seguindo padrões técnicos e de segurança.
Após a conclusão das intervenções, é feito um monitoramento constante para garantir que as soluções sejam eficazes a longo prazo, como inspeções regulares, análises de estabilidade e manutenção das estruturas construídas.Recentemente, duas novas sirenes foram instaladas em regiões identificadas como de alto risco. Elas servem como um alerta em situações de emergência, para dar às pessoas a oportunidade de evacuar com antecedência para locais seguros. Os investimentos em prevenção desde 2010 totalizaram aproximadamente 29 milhões de reais.