Legado Olímpico provoca discussões sobre melhorias,
problemas e responsáveis
A Prefeitura do Rio tinha um planejamento de melhoria da cidade pós olimpíadas. Às vésperas de Paris 2024, o Rio de Janeiro ainda tem projetos saindo do papel e debates sobre os atrasos.
Por Gabriel Machado e João Guilherme Saraiva
Após alguns anos de paralisação e de falta de manutenção do planejamento pós-olímpico, o legado da Rio 2016, voltou a ganhar novo fôlego em 2024. O Parque Rita Lee, o Velódromo, transformado em Museu Olímpico, e os Ginásios Educacionais Tecnológicos são exemplos de estruturas revitalizadas. Porém, a memória dos cariocas não é das melhores e ainda é marcada por debates sobre superfaturamento, subutilização e uso político. O atual governo do Rio culpabiliza o antigo prefeito, Marcelo Crivella, pelo atraso nas obras.
Rafael Lisboa, consultor de Comunicação Estratégica da Prefeitura do Rio, explicou que a Prefeitura tinha um plano de continuação das obras, porém o prefeito que veio em seguida não deu continuidade a esse projeto. Na visão dele, a cidade ficou abandonada durante o governo Crivella, e isso atrapalhou o legado olímpico.
— Quando o Eduardo Paes reassumiu (a Prefeitura) decidiu pegar o plano do legado e implementar novamente. Desde o início a Olimpíada foi pensada para deixar um legado permanente, mas o Crivella parou e algumas coisas estão sendo entregues só agora. Vai ser inaugurado agora o Parque Rita Lee, na área principal do Parque Olímpico, e o Velódromo vai continuar com a sua função principal, mas a parte de cima está sendo transformada em um Museu Olímpico, o que ajuda a contar a história dos jogos — disse Rafael.
Procurado pela reportagem para se pronunciar sobre as críticas e sobre o legado olímpico, o prefeito do Rio de Janeiro de 2017 a 2020 e atual deputado federal, Marcelo Crivella, não respondeu às tentativas de contato.
Em fevereiro deste ano, a Prefeitura do Rio inaugurou os Ginásios Educacionais Tecnológicos, construídos a partir da Arena do Futuro. Além disso, a Prefeitura do Rio também inaugurou o Ginásio Educacional Olímpico Isabel Salgado, no Parque Olímpico da Barra. Quase oito anos depois, esta é a primeira vez que um estádio olímpico é transformado em uma escola pública. Também em fevereiro, foi inaugurado o Terminal Intermodal Gentileza, projetado para ser o ponto de chegada ao Rio do BRT Trans Brasil, que tem demanda estimada em 130 mil pessoas transportadas diariamente. A construção reutilizou parte das estruturas do Centro Internacional de Transmissão dos Jogos Olímpicos 2016.
Larissa Salgado, presidente da Federação de Ginástica do Estado do Rio, usa as estruturas olimpíadas semanalmente e acredita que elas estão sendo bem utilizadas e comentou que não só a área da ginástica, que é muito bem preservada, porque tem a parceria da federação, mas toda a arena está em perfeito uso. A professora de ginástica ainda disse que a modalidade tem um calendário bem extenso no ano de 2024 e o Parque Olímpico será muito usado.
— Eu farei competições na Arena 1, que é do governo federal. A gente tem a Arena 3 funcionando como escola, houve a desmontagem de duas arenas que viraram escolas públicas. Dentro do Parque Olímpico, todas as arenas montadas, inclusive, teve um evento este ano na Arena do Tênis. Fora o Rock in Rio também, que é um evento da cidade do Rio de Janeiro e utiliza o Parque Olímpico. Todas as arenas são muito bem utilizadas, graças a Deus — disse Larissa.
A Arena do Futuro, do handebol, e o Estádio Aquático, da natação, foram construídas com estruturas provisórias para poder ser desmontadas e ter o seu material usado em outra construção. O material que não pode ser reutilizado será vendido pela prefeitura como sucata, e o que tiver em bom estado de uso e conservação, será preenchido para dar lugar a quatro escolas. O complexo Deodoro, na zona norte da cidade, era utilizado para as competições de esportes radicais e foi transformado em área de lazer com piscina para a população. Durante a semana, é o único local de treinamento para a Seleção Brasileira de canoagem.
Para Larissa Salgado, o Legado Olímpico foi muito importante para a ginástica e hoje a Arena Carioca II está cedida para o município, que dá total suporte para utilizar. Segundo a presidente da FGERJ, a parceria da federação é com a SMEL, Secretaria Municipal de Esporte e Lazer e hoje a média é de 480 alunos praticantes da ginástica, com uma fila de espera com quase mil alunos.
— É uma parceria realmente muito boa, são duas modalidades olímpicas usando esses aparelhos que são em parceria da confederação, da prefeitura e da federação. Temos esse ano lá na Arena 2, 16 competições só na parte da ginástica. Se não fosse a arena, a gente estaria sem lugares para competições, sem lugares para treinos, nessa quantidade enorme de crianças. O legado olímpico hoje é realmente utilizado - comentou a presidente da federação.
Além da Arena 2, a antiga Arena Carioca 3, que foi palco de competições olímpicas, teve sua estrutura transformada na maior escola do Rio de Janeiro, tornando-se a única arena esportiva mundial convertida em escola pública. O ginásio, com 18 mil metros quadrados, visa ser um ambiente integral de desenvolvimento para crianças e adolescentes, incorporando disciplinas regulares e prática esportiva no contraturno escolar - disse a presidente da federação.
De acordo com Rafael, a opinião geral era de que uma cidade como o Rio não teria condições de entregar um grande evento, mas o governo entregou mais do que o prometido. Segundo o Consultor de Comunicação Estratégica da Prefeitura do Rio, o dossiê de candidatura tinha 17 projetos e a prefeitura do Rio acabou implementando 27 projetos olímpicos.
— Um exemplo é o Centro de Tratamento de Resíduos de Seropédica, que recebe o lixo da cidade e é um dos mais modernos da América Latina. Quando começaram a falar que as obras estavam atrasadas, a gente criou três categorias para mostrar o andamento: Legado antecipado, o que foi entregue com antecedência; legado ampliado, promessas estendidas; antigas promessas, obras que estavam atrasadas há décadas — afirmou Lisboa.
Os Jogos Olímpicos do Rio não deixaram na população uma imagem de construção de legado. Apesar de ter exemplos positivos e estruturas que funcionam com grande eficácia, há diversas discussões sobre superfaturamento e uso para campanha política, e a memória que fica para o brasileiro, mais especificamente para o carioca, não é a das melhores. Em 1992, Barcelona virou exemplo para o mundo. A Vila Olímpica da cidade catalã virou um dos bairros residenciais mais procurados da cidade. Já a Olimpíada de Tóquio ficou marcada como a mais sustentável de todos os tempos. O país teve um plano de ação da ONU, além de todas as 5 mil medalhas da competição serem produzidas com lixo eletrônico reciclado.