Um dos símbolos do Centro do Rio de Janeiro. A Avenida Presidente Vargas, vazia.
Estímulo à moradia como incentivo à revitalização do Centro do Rio de Janeiro
Após a pandemia, região central da cidade ficou abandonada por conta do trabalho de home office e estilos alternativos de residência começam a surgir como opção
Por Vitor Tibana
Repovoar o Centro do Rio, esvaziado após a pandemia da Covid 19, é um desafio que une a prefeitura municipal ao setor privado. Levantamento indica o abandono de quase 160 imóveis na região, fortemente impactada pelo crescimento do trabalho híbrido. Para reverter o quadro, a Prefeitura lançou o programa “Reviver Centro”. A iniciativa privada, por sua vez, busca atrair novos moradores para a região, estimulando a recuperação urbanística e social da região. O plano inclui uma série de incentivos fiscais e permissões de novos usos para ajudar às construções de novas moradias. Uma das apostas em projetos como o co-living, uma moradia compartilhada entre pessoas que estejam buscando senso de comunidade e economia. Essa nova opção de moradia está sendo escolhida não só para residir, mas também empreender. Nesse modelo são utilizadas dependências comuns e sociais que contribuem com o funcionamento do edifício.
Busca pelo espaço na região central
A Opportunity é uma das empresas que buscam áreas para construção no Centro. O profissional Jomar Moneratt, gestor imobiliário da companhia, comentou sobre o potencial da região para novos empreendimentos e construções de moradia após a mudança de relacionamento entre bairro e população.
O Centro do Rio não é mais um bairro de passagem ou de trabalho; ele tem um potencial de moradia muito grande que está sendo estimulado com ações como o Reviver Centro, da Prefeitura do Rio. A região tem a grande vantagem de ser muito bem servida de transporte e de infraestrutura, atraindo o público que deseja morar perto do trabalho e de tudo, além de poder aproveitar todas as opções gastronômicas e culturais. E com o Reviver Centro, o bairro está em evidência, pois ao oferecer incentivos fiscais que incluem o ITBI (Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis) e o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), a iniciativa beneficia as empresas e também o consumidor final - disse o gestor.
Jomar também destacou áreas em que se é possível crescer. Vale ressaltar que o centro do rio inclui inúmeros sub-bairros e regiões como Santa Rita, Candelária, Central do Brasil, Praça Onze, Santana, Senado, Cruz Vermelha, Tiradentes, Bairro de Fátima, Castelo, Buraco do Lume, Cinelândia, Carioca, Livramento, Praça XV, Saara e Uruguaiana; além das ilhas das Cobras, Fiscal, de Villegaignon e das Enxadas, e o Aeroporto Santos Dumont.
— Além do Porto Maravilha, consideramos que as ruas próximas à Avenida Presidente Vargas também têm esse potencial de expansão de moradia. Prova disso é que lançamos em novembro do ano passado o Casa Mauá Residencial, primeiro empreendimento pronto para morar pelo Reviver Centro 2 — comenta Jomar Moneratt.
Novas Experiências de Moradia
O Co-Living é o formato encontrado pelas grandes empresas e construtoras para gerar lucro. O espaço de moradia compartilhada conta com apartamentos menores, chamados de estúdios pelos empreendedores do setor. Os prédios residenciais oferecem áreas de convívio que chamam a atenção no mercado imobiliário. Entre as mais comuns estão salas de reuniões, cozinhas, salas de jogos e pequenos mercados. No Brasil, a modalidade aumenta cada vez mais. O assessor de investimentos Pedro Bourgeois é ex-morador de um Co-Living no Rio de Janeiro e comentou sobre os benefícios de morar em um local perto do trabalho. Ele disse que escolheu a mudança devido ao desejo de morar mais perto do trabalho.
— A vida toda eu morei na Barra da Tijuca e estudei no Centro, então acabei tendo o pavor de ficar 1 hora no trânsito ou no metrô. A ideia de morar perto do trabalho foi muito atrativa. A ideia de viver em um local como esse foi interessante porque eu estava saindo da casa dos meus pais e querendo ou não eu já tinha uma cozinha e áreas em comum. Esses eram os lados positivos do prédio, além do rooftop que tinha um bar, e um espaço montado e estruturado para além da sua casa. Se eu tivesse sozinho, poderia apenas descer ou subir para ficar em locais que outras pessoas frequentavam. Eu usava a academia e as áreas de trabalho para mudar a questão de ficar dentro de casa.
Assim como Pedro, o estudante de administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio) Gabriel Crivelari também morou em um Co-Living. O jovem viu as áreas em comum como um atrativo e as frequentava com frequência.
— Alguns fatores me influenciaram a escolher morar em um Co-Living, como a possibilidade de conviver, conhecer e criar amizade com jovens. Além da possibilidade de criar networking, que em outras formas de aluguel é mais complexo. Os principais fatores positivos, na minha opinião, eram as áreas comuns e a união que existia entre os moradores do prédio. Como exemplos, fiz muitas amizades na área comum de lazer e na “pelada” de futebol que acontecia toda terça, que me ajudaram a superar algumas dificuldades de morar sozinho. Frequentava bastante as áreas em comum. Muitas vezes com amigos que fiz no prédio. Alguns dias descíamos pra jogar videogame, ping-pong e totó. Outros dias combinávamos de assistir aos jogos no restaurante do prédio, o que deixava a semana bem menos estressante — acrescentou Gabriel.
A Localização como Atrativo
Um dos espaços de Co-Living no Centro da Cidade é o Send Co-Living, voltado para este tipo de moradia em áreas urbanas. O edifício fica na Rua Senador Dantas, entre a estação de Metrô da Cinelândia e a Carioca. Além de ficar perto das estações do metrô, as pessoas têm bancos por perto: a subida do bondinho de Santa Teresa, proximidade com o Aterro do Flamengo, Aeroporto Santos Dumont e com a Zona Sul da cidade.
O gerente de vendas da Send Co-Living, Bruno Cunha, pensa que na região onde foi construído o prédio, tem várias comodidades, não só na questão da localização, como também no âmbito do próprio prédio, que tem inúmeros serviços que os moradores podem utilizar para facilitar o cotidiano.
— Aqui nós temos áreas em comum que funcionam da seguinte maneira: há sala de reunião, biblioteca, espaço delivery, que é um espaço de entrega com geladeira. Até compra de mercado você pode fazer e a recepção vai armazenar pra você. Além disso, nós temos uma lavanderia compartilhada, salão de jogos e um rooftop que você pode reservar e até chamar alguns amigos. Então você tem áreas de convivência que você pode desfrutar. A pessoa que aluga um estúdio aqui ou tem algo aqui, não precisa ficar dentro do seu apartamento o dia inteiro — explicou o gerente de vendas.
Bruno identificou durante os processos de vendas que parcela considerável dos compradores viam a aquisição como forma de investimento. Na hora de alugar, a preferência dos proprietários é por turistas ou residentes da cidade que queiram ficar por pouco tempo nos estúdios, seja por semanas ou poucos meses. No Carnaval deste ano, a diária de aluguel no prédio custou em torno de R$1300 reais, segundo o funcionário.
— Então temos bastante investidores, pessoas que têm o uso híbrido. Utilizam durante a semana para trabalho e final de semana alugam. Pessoas que moram em outras cidades do estado do Rio, e para ter uma qualidade de vida melhor em relação ao trabalho, acabam optando por comprar um estúdio aqui. Usam dois ou três dias para evitar o trânsito e depois voltam para suas cidades — comentou Bruno.
Diferencial na Aquisição em Co-livings e Prédios
O valor de compra mais baixo dos estúdios em relação aos apartamentos convencionais é o principal diferencial para os investidores. Os espaços são entregues prontos para a habitação, além de serem projetados para ajudar na comodidade e na praticidade do morador. O aposentado José Moisés, comprou um estúdio no Centro como forma de investimento e relata que a presença de pontos túristicos e as áreas comuns ajudam na hora de alugar.
— Os pontos positivos para quem quer alugar aqui é a comodidade de quem procura lazer e trabalho. Até porque na região central tem muitas opções turísticas. E mesmo assim dentro do prédio tem as áreas de trabalho, inclusive eu costumo alugar para pessoas que vem a trabalho no Rio de Janeiro — disse José.