Forró na banca quarta-feira a noite.
Banca de jornal com churrasco, cerveja e forró vira ponto de encontro em Ipanema
Entre cachaça a fiado e forró animado, a Banca da Alberto une trabalhadores e moradores de Ipanema com churrascos de fim de semana e cerveja gelada.
Por Maria Bourgeois
Ao meio dia de uma terça-feira qualquer um trabalhador entra e pede o de sempre, recebe uma cachaça a fiado, bebe rapidamente e volta para o serviço. Já no fim do dia, pessoas dançam um forró animado, que toca nos celulares. Sentados em banquinhos, bebem cerveja gelada e aproveitam o final da brasa da churrasqueira para assar as últimas peças do churrasco. Essa cena poderia se passar em qualquer boteco do Rio de Janeiro, mas na realidade é a rotina de uma banca de jornal.
Localizada na rua Alberto de Campos, em Ipanema, a Banca da Alberto tem sido um ponto de encontro para trabalhadores de Ipanema há quase uma década. Conhecida pelos churrascos de final de semana e pela cerveja gelada, o espaço representa a união entre moradores do bairro, do Complexo Pavão-Pavãozinho-Cantagalo (PPG) e trabalhadores locais, que frequentam o local diariamente. A cerveja é o produto mais vendido, logo depois água e doces.
Há sete anos, o espaço é administrado por Francisco de Assis, 55 anos, conhecido como Seu Chico, que além de inquilino da banca também atua como pedreiro. Durante o horário comercial, Seu Chico deixa os cuidados com o chaveiro que divide a esquina com ele e sai para trabalhar na obra.
– Eu chego aqui às 9h, abasteço a banca e vou para a obra. Aí, revezo com ele. Nesse tempo que eu não estou aqui, o chaveiro vai lá e olha pra mim. Volto para cá por volta de 17h e aí vai até a hora que Deus quiser. Vou até 20h, 21h, depende do dia - conta.
O trabalho administrativo da banca é feito pela manhã, assim que Seu Chico chega. É o momento mais calmo do dia, que ele aproveita para abrir o caixa, ligar para os fornecedores, organizar o espaço e encher as geladeiras. A Banca da Alberto é equipada com churrasqueira, micro-ondas e uma televisão. De segunda-feira à sábado trabalhadores se encontram após o expediente para conversar e assistir aos jogos de futebol. A babá Vitória Castro bate ponto diariamente após o trabalho e conta que o espaço é uma grande família. Aos finais de semana, o grupo se organiza para os almoços em grupo e cada integrante leva um prato diferente.
Além da confraternização, a banca de jornal traz movimento para uma rua sem saída, o que a tornou mais segura. Seu Chico conta que antes da abertura do espaço a esquina era pouco movimentada e perigosa e que com o movimento da banca a rua foi se tornou mais segura. A designer Luiza Thomaz, 24 anos, afirma que sua vida mudou depois do empreendimento.
– Moro aqui a minha vida inteira, sempre tive medo de passear com meu cachorro à noite e não queria ir sozinha, a rua era muito vazia. Realmente, depois que a banca abriu começou a ter esse movimento, as coisas mudaram. Os assaltos diminuíram muito nesse trecho, traz uma sensação de segurança muito maior - compartilha.
Entretanto, não são todos os moradores que gostam do movimento. Depois da pandemia, a vizinhança passou a reclamar do barulho feito pelos clientes, mesmo antes das 22h. O grupo que gosta de dançar forró e reggae foi impedido por moradores de colocar caixas de som, o edifício também instalou câmera de seguranças voltadas para o local.
– Aqui já bateu polícia algumas vezes, mas eles chegam aqui e veem que não tem nada. Não tem mais música em caixa de som, agora é só conversa e brincadeira, mas a gente não fala alto não. Só que as vizinhas não gostam, começaram a implicar depois da pandemia, colocaram até câmera para vigiar a gente - lamenta Vitória.
No fim, o controle (ou incômodo) dos moradores não foi o suficiente para terminar com a alegria da banca. E assim, como solução os clientes passaram a colocar a música baixinha, no próprio telefone e dançam com o rosto colado uns nos outros.