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Ginásio Isabel Salgado inaugurado em fevereiro de 2024. Foto: Prefeitura do Rio 

Prefeitura cumpre metas, mas sofre críticas sobre o legado
das Olimpíadas Rio 2016

Oito anos depois é possível perceber problemas relacionados aos jogos, porém há mudanças na cidade e promessas sendo cumpridas, afinal qual é o balanço deixado pelas olimpíadas Rio 2016?

Por Gabriel Machado e João Guilherme Saraiva

Oito anos após os Jogos Olímpicos do Rio, o legado olímpico ainda é um tema que provoca debates e opiniões distintas, que envolve tanto aspectos positivos quanto desafios persistentes. Andrea Redondo, ex-secretária de Urbanismo do Rio, afirmou que a cidade ainda sofre com os problemas de remoções de casas, desapropriações, e superfaturamento nas obras. Larissa Salgado, presidente da Federação de Ginástica do Estado do Rio, tem uma visão oposta em relação às heranças das Olimpíadas. Ela acredita que não tinha como ser melhor, visto o número de crianças, que chega a três mil, fazendo atividade dentro da Arena Carioca 2, na Barra da Tijuca.

O dossiê de candidatura da cidade para sediar a Rio 2016 previa um gasto total de R$ 28 bilhões, R$ 13 bilhões a menos que os R$ 41 bilhões usados até 2021, segundo reportagem do G1. Embora o evento tenha deixado algumas melhorias na infraestrutura da cidade, avanço para algumas modalidades esportivas e parte das estruturas tenham sido reutilizadas, o evento também expôs problemas, com muitas promessas não cumpridas e gastos acima do esperado. Um exemplo disso é o Velódromo orçado inicialmente em R$ 118 milhões, a construção consumiu R$ 31 milhões a mais dos cofres federais e segue tendo uma subutilização. 

De acordo com Rafael Lisboa, consultor de Comunicação Estratégica da Prefeitura do Rio, o orçamento olímpico foi dividido em três fatias: Comitê Organizador, que cuidava das cerimônias, deslocamento, alimentação e medalhas; Matriz de Responsabilidade, orçamento das instalações esportivas; Obras de Infraestrutura, que não relação direta com o evento, mas ajudam a melhorar a cidade.

— No total isso dá R$ 39 bilhões, sendo 60% de dinheiro privado e 40% público. Ou seja, de dinheiro do governo foram R$ 17 bilhões. No Parque Olímpico, a Prefeitura dividiu aquele terreno e fez a Parceria Público-Privada para construir as arenas. Ao invés de pegar dinheiro público para construir, você fez uma parceria com a iniciativa privada. Aí depois isso vira um lugar de empreendimentos imobiliários - comentou o consultor.

A Zona Portuária seria um dos principais centros do programa. Receberia a construção do Centro de Mídia e da Vila de Árbitros, futuros edifícios residenciais com a intenção de atrair moradores e levar movimento ao lugar vazio há décadas devido à desativação das atividades portuárias. A urbanista Andrea Redondo tem uma visão crítica sobre a escolha do local, compartilhada por outros urbanistas e arquitetos

— O foco na Barra da Tijuca foi um erro na opinião de vários urbanistas. O bairro e vizinhos imediatos não precisavam de benefícios construtivos e fiscais, pois desde o Plano Piloto é a região que mais recebe recursos em obras públicas e estímulo à construção civil. Aumentar gabaritos, levar a Vila Olímpica, Centro de Mídia e Vila dos Atletas para lá, com aumento de potencial dos terrenos, foi perpetuar a visão histórica de expansão da cidade, enquanto teorias recentes indicam o aproveitamento de áreas providas de infraestrutura, como a Zona Portuária.

Em 2007, o Rio sediou os jogos Pan-Americanos e muitas instalações foram construídas para esse evento. Nove anos depois, chegaram as olimpíadas, se era esperado, que algumas dessas estruturas fossem reutilizadas e outras passassem por algumas reformas para se adequar ao padrão olímpico, porém, não foi isso que aconteceu. A ex-secretária de Urbanismo do Rio disse que na época ficou assustada com algumas decisões tomadas

— Na época, me surpreendi com a perda do autódromo, erguido com recursos públicos, para a construção do Parque Aquático, da Arena Rio e do Velódromo, e a demolição do caríssimo velódromo construído para o Pan-Americano 2007, com a justificativa de que colunas atrapalhavam a visão dos jurados. Outra surpresa foi a construção de um campo de golfe sobre área de proteção ambiental, com supressão de um trecho da APA e da Avenida Prefeito Dulcídio Cardoso, uma via parque a ser completada caso os procedimentos de ocupação seguissem a lei vigente, modificada pelos chamados Pacotes Olímpicos.

Andrea Redondo também citou as leis para os “hotéis olímpicos”, com altura maior do que as permitidas por lei.

— Futuros prédios sem demanda, vários sendo transformados em edifícios residenciais muito mais altos do que os da vizinhança. Em todas as modificações mencionadas houve aumento de índices construtivos e isenções fiscais, benesses cujo retorno para a cidade é duvidoso ou inexistente- lamentou.

As Olimpíadas do Rio, antes mesmo de começar, provocaram muitas dúvidas sobre seu êxito, inclusive o Comitê Olímpico Internacional ficou preocupado com a sua realização. Segundo Rafael Lisboa, eles acreditavam que os Jogos Olímpicos do Rio seriam um fracasso, muito pela imagem deixada pela Copa do Mundo de 2014, que contaminou a visão sobre as Olimpíadas do Rio 2016.

— A visão era que se a Copa já estava com problemas, as Olimpíadas seriam terríveis, mas, na verdade, não tinha nenhum problema na organização dos jogos. Então a gente tinha que mostrar isso com uma estratégia de comunicação. Uma das maiores críticas às olimpíadas era
que as estruturas não estavam prontas, mas Rio ganhou exatamente porque não tinha estrutura, e a gente queria que as Olimpíadas significassem transformação - comentou Rafael.

 

A manutenção do parque olímpico e sua utilização após os jogos, talvez tenha sido o maior problema que a prefeitura do rio tenha que lidar, muitas promessas foram feitas na época, porém nem todas foram cumpridas. Na Via Olímpica - de uso da população - há denúncias de uso e venda de drogas. Um relatório elaborado por engenheiros do Departamento de Infraestrutura do Esporte, ligado ao Ministério do Esporte, apontou "mais de 1.300 registo de anomalias ou falhas identificadas em diversos sistemas construtivos" das Arenas Cariocas
1 e 2, do Centro de Tênis e do Velódromo. Na então gestão da prefeitura em 2016, o prefeito Eduardo Paes - que em 2020 voltou a ser
prefeito da cidade - prometeu algumas mudanças na cidade que beneficiaram a população, entretanto muitas delas não aconteceram. Andréa Redondo comentou que o discurso dizia ser viável, como se fosse a redenção do Rio de Janeiro, o que, na visão dela, não aconteceu.

— Planejamento, o nome diz: são planos, sujeitos, portanto, dificuldades reais, a percalços, questionamentos jurídicos. O projeto da Linha 4 do Metrô ligaria o Centro à Barra via Botafogo, Humaitá, Jardim Botânico e Gávea. O trajeto foi modificado. Aproveitou-se uma
licitação antiga e privilegiando-se a Zona Sul da Cidade, enquanto a Linha 2 está inacabada, que beneficiaria moradores da Zona Norte, e não temos ligação com o Aeroporto Internacional. Mesmo a falsa Linha 4 (é extensão da Linha 1) tendo utilidade para parte da população, questiono se era obra prioritária, diante da demanda da Zona Norte, o sistema de trens precário, e a ausência de transporte sobre trilhos para o Aeroporto - comentou Andrea.

Algumas promessas não saíram do papel e o plano de legado que deveria ter sido posto em prática a partir de 2017 só começou em 2021. Apesar disso, a Via Olímpica, espaço por onde passaram atletas e torcedores, tem um projeto com uma área de 36 mil metros quadrados, que vai ser transformado em um parque público natural. Além disso, novas quadras esportivas e praças, reforma do skate park, praça molhada e pisos coloridos. Haverá ainda novos mobiliários urbanos, como mesas e cadeiras, 27 brinquedos infantis, 14 aparelhos de
ginástica e 14 bicicletários.

Laboratório de Jornalismo I

Prof. Chico Otávio 

Rio de Janeiro, RJ, Brasil

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