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Esquina da Rua da Carioca com o Largo da Carioca

‘Rua da Cerveja’: esperança de novos ares para o centro

Projeto de revitalização de uma das vias mais tradicionais da cidade começa a sair do papel; falta de detalhes estruturais e de infraestrutura preocupam comerciantes mais antigos

Por Henrique Silva

Entre as tradicionais lojas de instrumentos musicais, a que só vende guarda-chuvas, o cinema erótico e o café tipo sebo, conhecido por uma variedade de cachaças artesanais, as portas cerradas há anos dos sobrados históricos e o baixo movimento de pedestres compõem o cenário decadente da Rua da Carioca, no Centro. Mas as marcas de abandono, comuns ao coração da cidade nos últimos tempos, parecem estar com os dias contados por lá. Uma iniciativa do poder público de transformar o Rio na capital da cerveja está viabilizando a chegada de fábricas e bares ao endereço, acompanhada da promessa de incentivos e revitalização urbana.

O projeto nasceu em 2019, capitaneado pelo vereador Rafael Aloisio Freitas (Cidadania), que se inspirou no formato da cidade das Artes e do Samba para solicitar à prefeitura a criação de um polo cervejeiro. Apesar de não ter ganhado força, à época, o parlamentar decidiu retomar as investidas no primeiro trimestre do ano passado, e desta vez teve o apoio do secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação, Chicão Bulhões.

— A ideia inicial era aproveitar a Leopoldina (Estação Ferroviária Barão de Mauá, na Praça da Bandeira, também no Centro), mas conversamos com o secretário, e ele sugeriu a Carioca, como forma de recuperar um lugar que já foi muito forte e hoje tem muitas lojas fechadas — contou o vereador.

Desde então, o município não mediu esforços para atrair os empresários do ramo. Em condições semelhantes ao Reviver Centro Cultural, costurou-se um projeto que prevê R$ 1.000 por m² para auxiliar as reformas e R$ 75 por m² para despesas mensais, respeitando um teto de 200m² por imóvel, e a duração dos investimentos entre 30 e 48 meses. Além de obras de ampliação das calçadas, acompanhada da redução das faixas para veículos, e ainda uma nova iluminação e mobiliário, com mesas, bancos e cadeiras para a repaginação total da via.

Os termos iniciais de adesão ao intitulado Programa Reviver Largo da Carioca foram assinados em março no Café do Bom Cachaça da Boa, que há 20 anos resiste no local e ficou de fora do incentivo do governo — um dos requisitos para fazer parte do projeto é que as lojas estejam vazias e que produzam nos sobrados. Apesar de não se incomodar com a falta de ajuda aos comerciantes da "velha guarda", Yansel Galindo, de 53 anos, dono da cachaçaria, pondera que o novo público etílico e a revitalização da rua carecem estar alinhados com uma presença permanente do estado.

 

— A gente sempre tem um pé atrás. Isso aqui não pode virar a Lapa, onde tem bares, movimento, mas falta infraestrutura. É preciso ter o básico da administração pública: segurança, limpeza, iluminação — pontuou Galindo.

Ele ainda se diz preocupado com algumas “pontas soltas” do projeto, que freiam a sua animação momentânea:

 — Olha a quantidade de ônibus que passam por aqui, fico me perguntando como vão fazer com apenas duas faixas de rolamento (atualmente são três). E tem mais, se todas as cervejas realmente forem realmente produzidas aqui, a depender do volume, eu fico sem água. Tudo tem que ser pensado, e acho melhor esperar para ver — concluiu.

Para os críticos, outra questão que surge é sobre os dejetos industriais gerados pela fabricação cervejeira. O destino que será dado aos resíduos, que envolvem grãos de malte e lúpulo usados, líquidos contendo produtos químicos, leveduras excedentes e emissões de gases como dióxido de carbono não foi definido até aqui. Esses subprodutos podem apresentar sérios impactos ambientais, caso não sejam tratados, reciclados ou reutilizados.

 

— A previsão é que em seis meses as cervejarias comecem a operar, e isso certamente será conversado com a Comlurb (Companhia de limpeza urbana do Rio) quanto antes — diz Freitas, que acompanha de perto o desenrolar dos fatos.

Até agora, 13 cervejarias toparam participar do programa e prometem ir além de fábricas de cerveja artesanal com brewpubs. Entre os entusiastas, há que produza outras bebidas alcoólicas, como whisky, cachaça, kombucha e hidromel. Sem contar o projeto gastronômico, com uma cartela variada de petiscos e drinks.

Uma determinação contratual da prefeitura estabelece que os empresários precisam não só produzir no local, como também propor atividades que movimentem o público e mantenham o funcionamento noturno e aos finais de semana. Inclusive com a previsão de interditar o fluxo de carros durante os eventos.

A expectativa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento é que a Rua da Cerveja movimente R$ 222 milhões em 4 anos e gere uma massa salarial (soma dos salários) de R$ 41,8 milhões, no período. Além de gerar cerca de 500 novos empregos.

Histórico Cervejeiro

Caso saia do papel, o novo centro cervejeiro marca um reencontro da Rua da Carioca com o seu passado. Durante a década de 1850, a via abrigou diversos depósitos de cerveja que vendiam tanto bebidas nacionais quanto importadas.

A atual Rua Riachuelo (antiga rua de Matacavalos) era responsável pela produção da bebida que escoava na Carioca. Entre os anos de 1848 e 1885 o local sediou uma série de cervejarias locais que se expandiram tempos depois. Depois, com o crescimento da cidade para os subúrbios, as fábricas deixaram de ser centralizadas.

Laboratório de Jornalismo I

Prof. Chico Otávio 

Rio de Janeiro, RJ, Brasil

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