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O lado B das rodas de samba 

As rodas de samba que acontecem apesar e por causa de tudo

Por Maria Lins

No mês de março, a Região de Guaratiba, na Zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro, atingiu uma sensação térmica recorde de 62,3°C, a maior registrada desde 2014, quando o sistema do Alerta Rio começou a fazer medições. A retirada da vegetação e a urbanização têm provocado a aceleração do fenômeno, apontado por especialistas, como a formação de ilhas de calor. Andrews Lucena, professor e pesquisador da UFRRJ, monitora o clima no Rio de Janeiro há 25 anos e se mantém embasado sobre o panorama da cidade, e sobre a área do bairro de Guaratiba.

 

— O ar que desce é quente e fica parado, ele entra no Mendanha (maciço) e fica retido pela Pedra Branca- explicou o docente.

 

Por se localizar em uma área que recebe ventos predominantemente do Norte, que costumam ser mais quentes, o bairro também está próximo a um grande corpo hídrico, a Baía de Sepetiba, o que aumenta a umidade e eleva os números. Esses fatores geográficos e urbanísticos contribuem para que a área se torne um significativo bolsão de calor, comum nas grandes cidades. Mas como as árvores podem fazer a diferença em locais que se tornaram semi-áridos? 

 

O mapa do calor do Rio, apresentado pela prefeitura em novembro de 2023, reafirmou uma percepção histórica: as principais ilhas de calor da cidade ficam na Zona Norte, em bairros como Complexo do Alemão, Complexo da Maré, Ramos e Pavuna, além de Bangu, na Zona Oeste. A conexão tem fatores diversos, mas é simples ligar ao fato das áreas possuírem baixa cobertura vegetal.

 

Além das árvores melhorarem a qualidade do ar ao absorver o CO₂, elas  estabilizam a umidade do ar e minimizam o barulho causado pela poluição sonora dos centros urbanos. Em entrevista com um dos criadores da Fundação Parques e Jardins, Roberto Rocha, arquiteto, urbanista e ex-servidor da Secretaria de Meio Ambiente, trouxe um ponto sobre a relação que enxerga entre o cidadão e o espaço urbano.

 

— Carioca gosta de árvore, mas na porta do vizinho: “em frente ao prédio, vai entupir um cano, vai tapar a luz do poste e vai sujar a calçada”.

 

Ter uma árvore na calçada ou em casa diminui o impacto das chuvas sobre o solo. Auxilia também na drenagem urbana, com a redução da velocidade de chegada das águas das chuvas, promovida pela interceptação e retenção temporária dessas águas pelas copas das árvores. Além disso, um estudo da Universidade da Califórnia verificou que, especialmente adolescentes e idosos, moradores próximos a áreas verdes estão cerca de 36% menos propensos a desenvolver transtornos psíquicos, como a depressão.

 

Um levantamento exclusivo do RJ1, da TV Globo, revela que, no ano passado, o número de autorizações para remoção de árvores na cidade do Rio cresceu 180%. Em 2023, foram retiradas - de maneira legal - 11.730 árvores em toda a capital, o maior número dos últimos 8 anos.

 

— Com o avanço constante de construções na Zona Oeste da cidade, área com um processo de expansão urbana mais acelerado, o desmatamento é o maior- afirma Roberto

 

Para que uma árvore seja removida, é necessário entrar em contato com a Comlurb ou com a prefeitura, em seguida é feito um licenciamento ambiental da área. Até o ano de 2021, a responsabilidade era da Subsecretaria do Meio Ambiente, mas passou a integrar a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Econômico.

 

De acordo com o Marcello Deschamps, engenheiro florestal da coordenadoria de Manejo Arbóreo da Comlurb, a retirada de árvores pode ocorrer em 3 situações: a árvore estar morta, alto potencial de risco identificado em que não há manejo seguro e em risco de colapso estrutural identificado em laudo técnico. Mas quando se trata de obras privadas, a autorização vem direto do braço da prefeitura, a Fundação Parques e Jardins. 

 

O governo da Cidade do Rio lançou um projeto com o objetivo de monitorar a cobertura vegetal das áreas remanescentes de Mata Atlântica. Batizado como Monitoramento Contínuo de Cobertura Vegetal da Cidade, o programa publicado no diário oficial em março deste ano tem como objetivo o equilíbrio ecológico de ecossistemas, assim como sistematizar informações quanto às características da cobertura vegetal da cidade. O custo será de R$1 milhão, afirmou a secretária de Meio Ambiente, Tainá de Paula.

 

— O programa de monitoramento é para acompanharmos todas as áreas verdes urbanas. Claro, os remanescentes de Mata Atlântica são nosso foco, mas a perda de cobertura vegetal urbana em bairros já arborizados é também uma meta. Todos os bairros em que temos hoje ilhas de calor, Centro, Irajá, Bangu, Campo Grande e Pedra de Guaratiba, perderam áreas verdes significativas ao longo dos anos.

 

São Paulo

 

Em comparativo com a cidade de São Paulo, considerada uma das mais arborizada do país, a capital carioca está anos atrasada. Com o objetivo de diminuir o impacto do calor na área urbana, a prefeitura paulistana oferece mudas de árvores caso os cidadãos sintam a necessidade de áreas específicas precisarem de mais “verde”. Para isso, basta acionar o portal de atendimento "SP 156", pelo site ou aplicativo do governo. No Rio de Janeiro, em contrapartida, 

 

Um estudo citado pelo entrevistado Roberto Rocha indica que uma árvore madura equivale a um número entre 5 e 8 mudas plantadas. Aliado a isso, Ricardo Cardim, líder do projeto "Floresta de Bolso", apontou a urgência para se esverdear áreas urbanas.

 

— Se a gente não esverdear com critério as nossas cidades, reestruturar a biodiversidade nativa, elas se tornarão inabitáveis daqui a algumas décadas- contou o mestre em botânica da USP.

Laboratório de Jornalismo I

Prof. Chico Otávio 

Rio de Janeiro, RJ, Brasil

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