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Catador de material reciclável. Foto retirada do site da Agência Brasil 

‘Eu reciclo para não precisar roubar’: a realidade dos catadores cariocas

Catadores contam como é a jornada de trabalho diária na Cidade Maravilhosa, enfrentando a discriminação e a violência urbana

Por Beatriz Villar

Marginalizados. Discriminados. Expostos à violência urbana e a riscos para a saúde. Essa é a realidade dos catadores de material reciclável. Em 2022, O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis estimou que existiam cerca de 800 mil catadores em atividade no Brasil. No Rio de Janeiro, a entrada das empresas de coleta seletiva aliada ao desemprego gerado pela pandemia da Covid-19 foram os fatores responsáveis pelo aumento expressivo do número de pessoas trabalhando com a catação. 

Nas orlas das praias cariocas, a figura do catador de latinha sempre existiu. Com a entrada de empresas privadas de coleta seletiva na cidade, essas pessoas passaram a catar todo tipo de material reciclável. Ao tornarem os resíduos uma espécie de matéria-prima, essas empresas acabaram por fomentar, indiretamente, a reciclagem. 

O reconhecimento dos catadores como agentes ambientais, todavia, não está intrínseco à população. Quando perguntados se já sofreram algum tipo de discriminação por trabalharem como catadores, Marcus Vinicius de Souza (35) e Neander Soares (23) responderam que isso faz parte do dia a dia do trabalho. “As pessoas não podem ver a gente andando que já acham que vamos roubar. Escondem o celular, se afastam. Não entendem que a gente recicla pra não precisar roubar.”

Andando sem camisa, descalços e sem nenhum tipo de luva protetora, os dois amigos contam que trabalham juntos há 13 anos. Nascidos em Juiz de Fora (MG), vieram para o Rio em busca de melhores condições de vida. “Se a gente voltasse pra lá, teríamos casa e comida. Mas a gente não tem dinheiro nem pra jantar muitas vezes, então não dá pra voltar.” 

Além da fome, Marcus e Neander também enfrentam longas jornadas caminhando no sol carregando sacolas cheias de latinhas. Apesar de apresentarem lesões na pele por conta da exposição sem proteção solar e relatarem sentir constantes dores nas costas pelo peso diário que carregam, os dois revelam que nunca chegaram a procurar por atendimento médico. “Se a gente precisar ficar parado, não vamos ter auxílio da Prefeitura. Aqui no Rio é muito difícil que nos ajudem, lá na nossa cidade era mais fácil. Então é melhor conviver com isso. ”

Para o catador carioca Thiago Reis (34), o principal desafio da profissão é encontrar material bom para revender. Como não é cooperativado, Thiago depende da sorte para encontrar produtos em boas condições. “Hoje, por exemplo, consegui pegar esses dois relógios. Tão meio quebrados, mas vou dar uma ajeitada e acho que vou conseguir vender.” 

Trabalhando como catador há um ano, ele conta que sai todo dia de manhã cedo na companhia de seu cachorro Joca para catar. Das sete da manhã até escurecer, os dois caminham juntos pelos bairros da Zona Sul da cidade atrás de material. “É cansativo, tem dias que fico o tempo todo andando com muita sede e não volto com quase nada pra casa.” 

O aumento do número de catadores é também uma dicotomia que a Comlurb busca solucionar. Por um lado, há o ganho ambiental para a cidade, que passa a ter mais gente reciclando. O presidente da Comlurb, Flávio Lopes, afirma ainda que quanto mais gente se profissionalizar nesse setor, menor será o custo logístico da companhia. “Com menos volume de resíduo sendo enviado para o aterro sanitário, menos caminhões vão ser necessários para transportar esses resíduos. Uma parcela da população passa também a ganhar dinheiro com isso e a vida útil do aterro aumenta.”, diz. 

Por outro lado, existe um problema operacional. Responsável por repassar os materiais recolhidos para as cooperativas, a companhia tem recebido menos lixo por conta do aumento da iniciativa privada no processo de coleta seletiva. “A gente não compra e não vende material reciclado. Quando a reciclagem passou a ser um negócio lucrativo, as empresas privadas começaram a entrar nesse segmento. Ao longo desse tempo, cada vez menos material vem para a gente”, explica Lopes. 

Frequentemente, os catadores precisam abrir os sacos de lixo em busca de recicláveis. Ao fazerem-no, acabam por vezes deixando espalhado o que não vão usar. “Antes, o meu caminhão chegava com dois, três garis, que só pegavam os sacos e iam embora. Hoje, por ter lixo espalhado, os garis precisam catar e varrer o lixo, além de muitas vezes precisarem lavar a calçada”. 

Laboratório de Jornalismo I

Prof. Chico Otávio 

Rio de Janeiro, RJ, Brasil

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